As startups são as empresas do momento em Portugal. Com o Websummit, há cada vez mais empreendedores a montar novas empresas. Sabe o que te pode esperar se trabalhares numa.
Trabalhar numa startup pode ser o sonho ideal, desde o aparecimento das big four. A Amazon, a Apple, o Facebook e a Google são casos de start-ups que venceram no mercado e agora são gigantes multinacionais. Muito do seu sucesso é atribuído à sua cultura que muitas start-ups também partilham entre si: os open-offices, os trabalhos remotos, as reuniões de brainstorming, o feedback constante.
As start-ups estão na moda, principalmente em Portugal.
A abertura de espaço coworking, a divulgação constante por parte do Start Up Lisboa, a captação de empresas estrangeiras para abrirem pequenos escritórios em Portugal, os recentes unicórnios com ADN português, o impacto do Websummit. Todos estes factores mostram-nos que as start-ups são o coração da economia portuguesa a florescer.
Conheço várias pessoas que já trabalharam em startups e falamos um pouco sobre o assunto. Perguntei-lhes o que achavam que eram os pontos mais positivos e pontos a melhorar. Umas já tinham saído e guardavam a experiência com carinho, outras ainda estavam a trabalhar e a gostar da experiência. Mas claro que havia aspectos a melhorar.
Vantagens de trabalhar numa startup
Rápida aprendizagem tudo a acontecer
As startups são famosas por ligarem pouco a hierarquias e todas as pessoas podem fazer um pouco de tudo. Como têm estruturas pequenas, cada colaborador é essencial e acaba por fazer mais do que uma tarefa em vários departamentos. Ao tocares em várias áreas, tens de ter um maior tempo de resposta e de decisão para manter as operações vivas diariamente. O ritmo alucinante prende-se com mudanças de estratégia, aproveitamento de momentos para criar buzz e iniciativas para dar um push aos objetivos do plano anual.
Ao teres uma experiência rica em vários departamentos, poderás aprender mais e melhorar as tuas skills. Podes até conhecer funções que não sabias de que gostavas e que sem essa exposição nunca irias saber!
Experiência única
Uma startup é, no fundo, o nascimento de uma empresa. Podes assistir a uma empresa que está a ser construída e relacionares-te directamente com pessoas de outras áreas sem formalidades. É uma oportunidade que não tens todos os dias. Se fores das primeiras pessoas a ser contratadas, vais ver mais colegas a serem contratados, a imensas discussões de definição da empresa. Acompanhar o início de uma empresa pode ser assustador, mas também ajuda a perceber as componentes da empresa, como é que os líderes tomam decisões, como é que um produto ou serviço nasce. É mais uma vez conhecimento que podes não ter numa empresa já formada e que te dá um know-how completo. Poderás usar esse know-how para montares a tua própria empresa ou lançar um produto numa outra empresa. Por teres vivido a experiência, podes evitar os erros mais comuns e trilhar um caminho com mais sucesso.
Oportunidade de impacto
Por ser uma equipa tão pequena, tens o luxo e a oportunidade de dares o teu feedback. Se fores das primeiras pessoas a fazer parte, vais conhecer a empresa como ninguém e poderás dar a tua opinião. As tuas ideias e processos podem moldar a empresa e daí a seis meses, as novas pessoas podem conhecer a tua influência. Para quem gosta de contribuir e por as mãos na massa, estar numa startup em pleno nascimento pode parecer um parque de diversões. Todos os dias são diferentes, todas as ideias são debatidas e até mesmo aceites, a pouca burocracia ajuda à ação imediata e os planos podem ser adaptáveis. Os criativos e inovadores podem sentir que têm um espaço para testar e moldar o ambiente à sua maneira e isso traz um maior reconhecimento do trabalho
Contudo, deves também perceber que há dois lados da moeda.
Quais os pontos menos positivos de trabalhar numa startup?
Estabilidade
Como é uma empresa a nascer, faltam-lhe as bases que podes facilmente reconhecer numa empresa já formada e a andar a velocidade de cruzeiro. Com a mudança de planos e a «vida» de fazer tudo à pressa, podes notar que não há grande estabilidade numa startup. Faltam os processos diários e rotineiros que permitem os colaboradores saberem exactamente qual o seu papel e o seu contributo. Falta também a organização de equipas e funções quando tens mudanças constantes.
A falta de ferramentas pode também puxar-te para ser mais criativo a arranjar soluções e noutros dias pode-te frustrar que as coisas fossem diferentes.
Além disso, a falta de estrutura pode fazer com que não haja uma vigilância permanente do negócio e levar a derrapagens de orçamentos e à falência. Não é por isso de estranhar que mais de 90% das empresas não passam os 5 anos de vida.
As startups não escapam a esta estatística pois, na sua fase de startup, são muito importantes a visão dos fundadores, os seus princípios de trabalho, as suas decisões arriscadas mas ponderadas – para que tudo funcione.
Dores de crescimento
Se hoje estás no Marketing e amanhã estás a falar com fornecedores, é normal que te sintas fora da tua zona de conforto todos os dias. Ainda podes estar a perceber como é que as coisas funcionam e és precisa para naquele momento fazer algo que nem sabes fazer, mas que tem de estar feito. Vais assim ter muitas dores de crescimento, pois os erros vão acontecer mas as soluções vão também aparecer. Como a tua curva de aprendizagem é mais curta, terás de dar passos maiores do que esperas e, para os mais cardíacos, a dinâmica de uma startup pode não ser o mais indicado.
É um desafio que muitos podem agarrar com unhas e dentes. No entanto, cada profissional tem o seu perfil e formas de trabalhar, pelo que é importante perceber se queres passar por essas dores de crescimento ou se estás numa fase de especialização que precisa do teu total foco numa só tarefa.
Cultura de empresa
Pode parecer uma vantagem a cultura da empresa mas pode também ser uma desvantagem que as pessoas com quem falei apontaram. No princípio, as startups mantém uma cultura muito própria com uma maior proximidade com os colaboradores. A partir do momento que crescem, o trabalho alucinante pode separar as pessoas. Quando ultrapassam os 100 ou 200 colaboradores, o espírito irreverente poderá perder-se e dar lugar a uma estrutura mais rígida que se vê em multinacionais. Contudo, houve pessoas que me falaram do inverso: havia startups que de facto cresciam mas ainda mantinham o espírito de startup e isso poderia ser uma desvantagem para o negócio, pois a expansão da empresa não era acompanhada pela estrutura.
A cultura da empresa deve-se por isso adaptar-te ao teu perfil e objetivo. Não podemos só pensar no café grátis, nos teambuildings, nos happy-hours e nos free gifts.
A cultura da empresa é mais sobre vestir a camisola e fazer parte do projeto da empresa a curto, médio e longo prazo, pelo que é possível que se perca alguma da espontaneidade ao longo do tempo e que dê lugar a outros tipos de relações, que podem também ser profissionais.
Um conselho meu
De facto, posso ter alguma experiência em trabalhar num ambiente de startup, pois estou numa empresa jovem.
Por isso, dou-te o meu conselho: prepara-te. Vai haver muita aprendizagem e com isso muitas dores de crescimento. Essas dores é tu a saíres da tua zona de conforto.
Se já tens experiência no mercado de trabalho, possivelmente vais ter de lidar com os teus hábitos de trabalho. Talvez tenhas de interagir com pessoas que trabalhem de maneira diferente de ti. Talvez tenhas de mudar alguns dos teus hábitos ou acelerar o passo. Talvez tenhas de reavaliar os teus processos e adaptá-los a uma realidade à qual não estás habituada. Talvez tenhas de dar mais o litro ou de pensar de outra maneira. Talvez tenhas de estar atualizada e trabalhar o músculo da inovação.
Ao falar com as pessoas, notei que a palavra «desafio» era utilizada sempre. E que o desafio era uma coisa positiva.
As desvantagens eram certamente algo a melhorar, mas que no final, eram essas mesmas que permitiam às pessoas serem melhores noutros desafios profissionais. Houve uma pessoa, que estava na startup há imenso tempo, que não tinha saído. Tinha crescido com a empresa, estava a passar por vários departamentos e, por essa mesma experiência, não pensava em sair. Onde poderia arranjar algo semelhante?
Assim, pensa sempre que a empresa onde trabalhares pode-te ajudar a crescer profissionalmente e que deves acolher o bom e mau e perceber como podes melhorá-lo e tornar a tua carreira mais interessante e de acordo com os teus valores e objetivos.
Por isso, partilha a tua experiência: trabalhas numa startup? O que mais gostas e menos gostas? O que melhorarias na tua ou noutra empresa?