Nas últimas semanas, toquei menos vezes no telemóvel e soube muito bem.
Dizem que os Millennials são viciados nos telemóveis. Que nasceram com smartphones (mentira). As crianças que têm uma facilidade para mexer na tecnologia (verdade). Que as redes sociais e as selfies tornaram-nos viciados na imagem e nos bens materiais (meia-verdade). E que não vivemos sem telemóvel e não conseguimos ter uma conversa real com alguém, frente a frente (meia-mentira, o que quiserem chamar).
A verdade é que não sou viciada no meu telemóvel, mas mexo muito nele.
É um sintoma e uma causa da atualidade. Todos temos um telemóvel para comunicar, todos temos o Wi-Fi ligado o dia todo, todos damos um olhinho em várias plataformas de vez em quando e todos passamos o tempo a ver tudo e a ver nada nestes aparelhos.
Não vou mentir que não passo tempo ao telemóvel. Mas não me sinto viciada. Os meus dados móveis estão sempre desligados, ligo-os para ver as redes sociais durante uns minutos, desligo e volto ao trabalho. Quando estou a comer ou quando estou a ver um filme em casa, não estou a mexer no telemóvel. E quando estou a falar com a alguém, quando pego no telefone, tenho a noção de que tem de ser por pouco tempo, já que tenho um ser humano à minha frente a quem devo dar atenção.
Isto para contar que, nas últimas semanas, o meu telemóvel esteve estragado.
As teclas não estavam a funcionar. Abriam e fechavam aplicações de repente. Era um suplício mexer nele. Escrever uma mensagem era tortura. Navegar nas redes sociais era por pouco tempo e fazer pesquisas de temas que me interessavam só dificultava o processo.
Com esta “adversidade”, comecei a colocar o smartphone de lado. Se não tinha nada para fazer, fazia um curso online, lia, ia arrumar a roupa, fazia outra coisa qualquer. Estive mais desligada das redes sociais, não segui tantas pessoas como queria e não tinha todas as aplicações de que gostaria. Contudo, não odiei a experiência como seria de esperar.
O meu telemóvel esteve estragado. E mal toquei nele. E soube muito bem.
Não toquei tanto no telemóvel, logo fazia menos scroll. Menos scroll deu-me a sensação de mais tempo livre.
Senti também menos FOMO (fear of missing out). Sabia que não poderia ver, porque não queria mexer no telemóvel. Assim, era assumido que não ia ver todas as stories todos os dias.
Mesmo que não visse coisas dos meus amigos, poderia sempre falar com eles quando achasse por bem.
Os meus olhos também agradeceram. Sim, olhei para a televisão e olhei para o telemóvel para colocar o alarme todas as manhãs. Mas tive menos “pregada” à necessidade de estar online. Assim, podia fazer outras atividades e os meus olhos podem ter agradecido o pouco tempo que foi.
Não nego as tecnologias, mas por vezes gosto destes desafios.
Gosto destes desafios de voltar a uma vida sem tecnologia. Gosto de estar em contato com outras atividades.
Adoro a ideia de passar os dias a ler. Aprecio a ideia de fazer coisas que não implicam redes sociais ou divulgação do que faço. Gosto de ter dias diferentes para quebrar a rotina. Uns dias em casa, outros todos na rua. Uns momentos sozinha em casa, outros momentos a ver séries sem parar. Umas atividades desportivas na praia, umas atividades indoor na cozinha.
No campo da tecnologia, passa-se o mesmo. Há alturas em que estou muito empenhada em fazer crescer a minha presença online, no Instagram ou no Linkedin. E outras alturas em que não ligo nada àquilo.
É esse desequilíbrio equilibrante que se pauta a vida, não é?
O telemóvel vai voltar e não vou deixar de ter tecnologia comigo.
O meu telemóvel foi para arranjar e quando voltar novo, sei que lhe vou dar muito uso, para compensar estes últimos dias. Mas há um pedaço de mim de que se vai lembrar como era bom não fazer scroll a todo o minuto e vai querer aproveitar o tempo. Ao sábado pode ganhar um lado e à terça-feira pode ganhar outro. Veremos isso nos próximos episódios.