Vivemos numa sociedade que se vive num ritmo em que tudo muda ao segundo, especialmente no trabalho. Eu até me sinto bem assim.
As notícias sobre o mundo empresarial não nos deixam mentir: as pessoas estão a experienciar os efeitos negativos do ritmo acelerado que a sociedade impinge.
Mais de um terço dos colaboradores sente-se em situação de burnout
A tecnologia tornou os processos mais rápidos e «fáceis» para aqueles que são literados em programação, marketing digital e tantas outras novas profissões. Seguindo o modelo do trabalhar mais horas é mais produtivo, andamos a trabalhar mais horas e a fazer mais coisas, sem acrescentar valor à nossa vida e à nossa carreira.
Não te enganes: as empresas portuguesas ainda não sabem trabalhar a transformação digital, mas essa é outra história.
Quando nos pedem todos os dias para fazer mais, nunca realmente desligamos. O telemóvel faz com que estejamos em permanente contacto, o wi-fi gratuito permite que demos um olhinho aos e-mails nas férias e os portáteis ajudam a fazer noitadas depois dos filhos irem para a cama.
Vivemos a um ritmo alucinante, todos nós. Temos mesmo de descansar e desligar. Mas depois há os workaholics.
Há algum tempo que pensei que gostava de descansar mais. Gostava de passar fins-de-semana na cama a ver filmes. Gostava de não ler revistas ou de só ler livros de ficção. Gostava de tirar uma semana de férias e ficar de papo para o ar na praia. Gostava de não ir tantos às redes ou de simplesmente deixar a minha vida e carreira rolar.
Mas já percebi que não consigo ficar quieta, pois sou workaholic (mas saudável). Sou workaholic porque gosto de trabalhar.
Gosto de acordar e saber que vou trabalhar em coisas de que gosto. Gosto de terminar o dia, reflectir sobre o que fiz e perceber que escrevi alguns textos. Gosto dos dias em que passo o tempo todo focada a trocar e-mails e a despachar ponto a ponto da to-do-list.
Gosto de ter reuniões em que se discutem ideias e saem-se com certezas. Gosto de ir a eventos conhecer pessoas. Gosto de fazer cursos. Gosto de ler livros técnicos. Gosto de me entreter com qualquer coisa que me faça aprender algo, não apenas por puro entretenimento.
Sou workaholic porque gosto daquilo que faço e não consigo estar parada.
Não consigo desligar o cérebro de ter novas ideias e pensar «o que posso fazer de novo? O que posso fazer diferente?». Não sei como falar com alguém, perceber a vida que tem e ir pesquisar sobre um tema. Não sei não mudar de ideias várias vezes por mês, simplesmente porque excita-me a ideia de aprender e fazer coisas novas.
Gostava de tirar férias longas, mas sei que a alguma altura vou estar a pensar em «trabalhar» alguma coisa. O meu corpo e cérebro ficam com alergias se não leio, se não escrevo, se não tiro tempo para aprender sobre coisas diferentes do meu trabalho.
Gostava de passar os dias à beira da piscina com zero preocupações, mas já sei que não consigo fazer férias de lontra. Há sempre um sítio giro a visitar, há sempre uma ideia que – pumba – aparece e não consegue calar. Há sempre numa conversa uma ideia de um próximo post ou uma ideia de um negócio que, claro está, é brilhante no papel.
O Erre Grande é como se fosse um segundo trabalho porque coloco parte do meu tempo nele. É trabalho porque quero escrever uma vez por semana, portanto há que haver disciplina. É trabalho porque quero falar de ideias que realmente possam-te ajudar na tua carreira ou a perceber melhor como funciona o mercado.
No fundo, sou workaholic porque estou sempre em modo trabalho – mas é aí que está a minha energia.
Não quer dizer com isto que não me entusiasmo em ir ao cinema, comer num novo restaurante ou passear à beira-mar a ver o pôr-do-sol. Tenho os meus momentos para relaxar e de aproveitar o momento com as minhas pessoas, que merecem toda a minha atenção. Mas sei perfeitamente que a minha energia e boa disposição advém do meu espírito de produtividade. Se fizer as minhas coisas, sinto-me bem e mais descansada. Se trabalhar no que gosto, estou muito mais receptiva a fazer coisas diferentes. Se me sentir satisfeita com os meus esforços durante a semana, vivo um fim-de-semana muito tranquilo.
Sou workaholic porque sei que o dia tem 24 horas e eu quero aproveitar cada segundo como quero.
Sei que preciso de energia para me sentir feliz. Só sei ser assim, sem tranquilidade e com mil ideias por segundo.
Nada me dá mais prazer do que perceber que geri bem o tempo e tive um dia cheio: um dia com exercício, cozinha, leitura, escrita, cinema e um bom passeio. É essa correria que me faz sentir feliz. Ser feliz é perceber que durante o dia posso trabalhar em mim, no trabalho, na minha escrita, ler ideias, apontar ideias, estar com quem amo, ver os programas e as histórias de que gosto, ter o meu tempo de leitura e depois deitar na almofada com um sorriso na cara.
Se não estiver a pensar, não estou a viver. Se não estiver a fazer, não estou a viver. Se não estou a viver não posso ser feliz. Por isso, posso ser um bocadinho workaholic, mas se esse é o meu viver, então esse é o melhor caminho para a felicidade.