Com os bons sinais de recuperação económica, paro para pensar no meu caminho desde a faculdade até hoje.
Saí licenciada para o mercado de trabalho em 2013. Era o terceiro ano da Troika e era um ano de recessão económica. O Governo estava a cortar em tudo e o Tribunal Constitucional chumba tudo. Pensa-se em programa cautelar porque as contas ainda não estão no ponto.
Dizem as notícias que o pico do desemprego foi exactamente em 2013, com 855 mil desempregados. Realmente as coisas não estavam boas. Ter um certificado de habilitações com as palavras «licenciado» não era o garante de um emprego, quanto mais de um estágio de três meses remunerado.
Contudo este não foi o sonho que nos venderam, quando estava na faculdade.
Faço parte de uma geração que foi ensinada que o percurso de sucesso profissional era estudar 12 anos e escolher um curso do ensino superior. Esse curso podia ser mais ou menos estratégico, porque era possível os jornalistas terem emprego, os psicólogos terem emprego, os geógrafos terem emprego, os professores de história terem emprego.
O ensino superior continuava a ser o garante de um percurso profissional bom, em que quem tivesse melhor média final do curso seria ainda melhor. Bons estudantes davam bons profissionais com bons salários. Algo que, 6 anos depois, sei que está totalmente desfasado da realidade do mercado.
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Foi ao olhar 6 anos para atrás que comecei a pensar nos meus colegas de turma da faculdade.
Comecei a pensar se realmente os melhores alunos eram os melhores profissionais.
O sucesso profissional é algo bastante discutível, mas o Linkedin pode dar uma ajuda nesta pergunta. Ao pesquisar pelos percursos profissionais é possível ver quem está nas «melhores» empresas e com o título mais «pomposo».
Quem é «manager» já ganhou a corrida e quem tem um título de 4 palavras em inglês também é vencedor. Quem emigrou e está numa start-up ou numa multinacional internacional é sem dúvida o rei da parada.
Estou totalmente a exagerar, porque o sucesso é um conceito individual e os títulos pomposos não nos dizem nada sobre a realização profissional e a felicidade individual.
Comecei a pensar como o sucesso académico nada tem a ver com sucesso profissional.
As notas eram indicadores de sucesso para os nossos pais, pois os alunos com média de 14 valores eram bons. Quem estivessem acima disso, iam certamente ser administradores de empresas.
As notas altas estavam ligadas à inteligência e os inteligentes tinham as melhores oportunidades. Um aluno de 11 não ia ser chamado para uma entrevista se houve no monte de CVs um aluno de 14. (Todo este parágrafo não faz o mínimo sentido hoje, mas a infância que vivi foi muito isto, o mundo é que mudou imenso).
Assim, ao olhar para os jovens da minha faculdade, percebia quem iria ter sucesso. A sua presença nas aulas, as notas dos testes, as cadeiras terminadas com 10 eram bons guias de como iria ser a tua vida.
Em jornalismo, isso poderia interessar, pois quem era bom aluno poderia ir trabalhar para um Público ou uma televisão, enquanto um aluno mediano tinha de se ficar pelos jornais online. (mais uma vez, todo este parágrafo não faz o mínimo de sentido hoje, mas a vida era muito assim).
Contudo, chega a crise e quando saímos todos em 2013, o mercado de trabalho está totalmente virado do avesso.
Quer-se lá saber do certificado de habilitações e do 14 a Técnicas de Redação Jornalística. Quer-se é saber se tens experiência em fazer grandes reportagens, sabes editar fotos no Photoshops, gravas uns vídeos, editas áudio e sabes-te desenrascar sozinho num direto. Além disso, o mercado da imprensa estava pelas últimas e os projetos digitais ainda não tinham nascido para provar que seriam o futuro.
Assim, 6 anos depois, podemos ver que cada um seguiu o seu caminhos.
Uns nem puseram os pés no jornalismo e partiram logo para outras áreas da comunicação. Outros tiveram de procurar outra coisa qualquer (o meu caso). Outros ainda conseguiram experimentar, mas já não estão perto das redações.
O que todos temos em comum é que ninguém nos pediu as notas para perceber se seríamos bons profissionais. As notas não são um requisito para o sucesso, por isso pedem-se as soft skills, as competências abrangentes nos momentos de stress, a agilidade de encontrar soluções.
Olhando para a minha turma vejo que seguimos caminhos muito diferentes, mas que o seu desempenho académico não foi certamente impeditivo de experimentar novas carreiras ou mudar de vida.
Passados 6 anos, estamos todos bem.
Diremos que evoluímos. Sobrevivemos. Arriscamos outras áreas. Encontramos o nosso cantinho cada um à sua maneira.
Hoje acredito que estamos felizes e que o percurso profissional não ficou limitado ao jornalismo. Acredito que muitos sentem ligações fortes com a área, mas sentem que foram mais além nos seus objetivos. Uns tiveram percursos mais simples, outros mais desafiantes. Contudo, a mudança de paradigma, o esforço de encontrar trabalho numa nova área e a persistência tornaram-nos mais fortes e destemidos.
Hoje, alunos de 11 ou de 14, estamos todos bem, porque esses números não definem a nossa carreira ou a nossa ambição profissional. As coisas mudaram e talvez esta tenha mudado para melhor.
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