O debate da produtividade tem dado que falar. Simplicando a produtividade diz que se trabalharmos mais horas, despachamos mais serviço logo somos mais produtivos.
Assim, quem trabalha 8 horas é menos produtivo que quem trabalha 10 horas. Mais duas horas de trabalho deveriam trazer mais benefícios e resultados à empresa, certo?
Era isso que se pensava, mas as longas horas de trabalho não previnem crises nem falências de empresas. A produtividade é um KPI imporante a considerar mas há que olhá-la de outra maneira.
Fica assim a questão: trabalhar mais é produzir mais?
No ano passado, a Suécia anunciou que ia testar reduzir os horários de trabalho semanais. Uma medida para promover o equilíbrio entre a esfera pessoal e a profissional, para aumentar a produtividade.
Cá em Portugal, o horário de trabalho semanal está estipulado nas 40 horas para o sector privado e 35 horas no sector público. Os horários de entrada e saída variam, com a média a ser entre 9h e as 18h. Contudo, a grande maioria das pessoas nunca sai à hora estabelecida, ficando sempre uns minutos ou até horas depois do trabalho.
Muitos dizem que ao trabalharmos mais horas, estamos a fazer mais, logo estamos a produzir mais.
Mas para Alexandra Michel, as coisas podem não ser assim tão lineares.
Michel trabalhava na Goldman Sachs e é actualmente professora na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos; no início deste ano, contou à Business Insider aquilo que descobriu:
Nos estudos que encontrei, vi que em pelo menos dois bancos de investimento de grande renome, os colaboradores estavam a trabalhar cerca de 120 horas por semana, o que dá 17 horas por dia, sete dias por semana.
Esta rotina leva a que os colaboradores esqueçam-se da família e a da sua saúde. Pensava que isto poderia ser por pressão das chefias, mas as pessoas trabalham mais horas mesmo que os patrões não lhes digam nada – e estas pessoas sabem que trabalhar 16 ou 17 horas por dia não as vai tornar mais produtivas. Penso que os indivíduos que trabalham mais não por uma questão de obrigação ou de procura de conhecimento. Acho que eles o fazem porque não conseguem conceber outra realidade. Não faz sentido trabalhar tantas horas por dia mas também não percebem como fazer de outra maneira.
O jornalista que escreveu o artigo reforça esta ideia, dizendo que não faz sentido trabalhar muitos horas só para mostrar trabalho. Parece ser tudo uma questão social em que as pessoas têm a percepção de que se estamos a trabalhar mais tempo, estamos a trabalhar mais e melhor.
Quem trabalha 17 horas deveria fazer mais e melhor mas nem sempre é assim. A produtividade é um ponto em que as pessoas trabalham eficientemente sem comprometer os processos da empresa e a sua saúde mental.
Assim como podemos avaliar a produtividade de uma empresa?
A produtividade tem de ser a relação entre eficácia e a eficiência.
A eficácia prende-se com a capacidade de criar o efeito que se quer e a eficiência cuida de produzir o efeito desejável com o mínimo de erros ou meios.
Face a isto, pergunto-me: será que as empresas estão a produzir os efeitos que querem com o mínimo dos meios? Sendo o tempo o meio mais precioso que temos, será que estamos mesmo a aproveitar o tempo que temos?
Estamos a ficar mais tempo no trabalho porque temos muita coisa para fazer? Ou não estamos a conseguir arranjar uma forma de sermos mais produtivos? Como é que é concebido um horário de trabalho de 8 horas e o colaborador não consegue completar o seu trabalho?
A equação da produtividade depende de dois pontos essenciais: os processos e as equipas.
Devemos pensar se os processos implementados são feitos da melhor forma. Por vezes, os colaboradores ocupam grande parte do seu tempo em processos que adicionam pouco ao desenvolvimento da empresa. Será que podemos fazer este processo em metade do tempo? Quais são as suas componentes essenciais? Este processo é realmente necessário para o crescimento da minha organização?
Caso esses processos sejam essenciais, deve-se perceber porque não estão a ser concluídos no espaço útil e isso depende das equipas.
A produtividade das equipas de trabalho depende desta simbiose entre as chefias e as suas equipas.
Há que ver como as chefias estão a delegar e como é que os colaboradores estão a organizar as suas tarefas diárias. As chefias podem não perceber o real trabalho em questão e estão a colocar pressão desnecessária na equipa. A equipa pode estar desorganizada quanto à prioridade das suas tarefas. Cabe às chefias a delegação do trabalho de forma eficaz e cabe aos colaboradores a organização mais produtiva do seu dia de trabalho.
Este problema da produtividade é algo que as empresas têm de resolver. Ou os colaboradores não estão preparados para as tarefas e é necessário um plano de formação. Ou as chefias não percebem o funcionamento das suas equipas. Assim, para poder acabar com esta questão do horário de trabalho, há que perceber como se pode melhorar os processos e a delegação de tarefas.
Uma missão comum e um plano estratégico permite aumentar os resultados da empresa dentro das horas laborais e permitir aos colaboradores serem mais produtivos sem terem um esgotamento. O caminho que as organizações devem percorrer faz-se sempre em conjunto com as suas pessoas.