As roupas fazem parte do estilo e personalidade de cada um. Escolher a roupa que vestimos todos os dias é uma maneira de mostrar a nossa individualidade. Todos temos o nosso estilo e ligamos mais ou menos à moda. Escolher a roupa para o trabalho é uma rotina na qual pensamos, pois a roupa que escolhemos mostra o nosso profissionalismo.
Contudo, há uma tendência de vários empreedendores de reduzirem o seu guarda-roupa a uma dita farda diária. Steve Jobs e Mark Zuckerberg são dois exemplos clássicos de bilionários que todas as manhãs escolhiam a mesma indumentária. Muitos alegam que vestir sobre as mesmas roupas ajuda na gestão do tempo. Quanto menos decisões se tomar – como escolher a roupa – melhor, pois há tempo para pensar realmente noutros problemas.
De facto, as fardas não são algo incomum na sociedade.
Os militares, os médicos e enfermeiros, a Polícia e outros grupos também usam a farda para se identificarem todos os dias. Por isso pensamos «porque não usar farda todos os dias?»
Uma das vantagens de usar uma farda é na melhoria da nossa gestão de tempo. A única vez de que me lembro que o fiz foi quando era altura das praxes académicas. Como utilizava o traje durante as duas semanas de recepção aos novos alunos, todas as manhãs sabia exactamente o que vestir: saia, collants, sapatos pretos, camisa branca, gravata preta, colete preto, casaco preto e a capa. No dia anterior não tinha de pensar no conjunto que iria vestir no dia seguinte e de manhã não perdia tempo a olhar para o espelho.
Mas não tem de ser o traje académico que nos incentive a ter uma farda. Seguindo o exemplo de alguns empreendedores, só usar um look durante dias também seria útil para o meio ambiente, pois não precisávamos de tanta roupa e a produção massiva de roupas que são utilizadas poucas vezes seria reduzida, tendo menos custos para a natureza. Ao seguirmos uma óptica minimalista com o nosso armário e ao adaptarmos o nosso look a apenas a algumas peças – como um Armário Cápsula – podemos poupar tempo e recursos e focarmo-nos noutros detalhes importantes da nossa vida.
Contudo, as fardas também têm desvantagens.
A utilização da farda pode ajudar a diminuir as diferenças de classes sociais. Nesses dias de praxe, eu e mais dezenas de pessoas vestíamos o mesmo. Não se notava quem era de que curso ou quem tinha os sapatos mais caros. Estávamos todos de igual.
Contudo, estávamos a criar uma separação entre nós e outros grupos, tal como outros o fazem com as suas fardas de trabalho. Os médicos usam bata e o título de “Doutor” e distinguem-se dos outros. O traje académico também era (e ainda é) uma forma de identificar os estudantes do ensino superior. Um simples fato e gravata está associado a profissões que exigem uma indumentária própria reflectindo a «importância» do trabalho e consequentemente de um salário mais elevado.
Assim, se virmos as fardas de uma forma interna, estas evidenciam a coesão de um grupo. Mas se compararmos as várias fardas entre si, notamos a exclusão.
Todos vestirmos o mesmo evidencia as diferenças sociais entre grupos ou criar estatutos imaginários. Ao vestirmo-nos todos de igual por imposição, perdemos a nossa individualidade. Porque através da roupa que vestimos, comunicamos ao mundo as nossas preferências e um pouco da nossa personalidade.
Já no mundo empresarial, alguns milionários adoptam uma farda de trabalho mas estas também transmitem estatuto. Não podemos esquecer que até mesmo o mais simples look não está acessível a todos. As t-shirts cinzentas de Zuckerberg, fundador do Facebook, custam 300 dólares cada e não está disponível para venda. Isto é, poder vestir uma t-shirt é uma coisa mas ter o poder económico para vestir uma t-shirt por encomenda mostra que esta não é uma farda que possa ser utilizada por outros.
Usar uma t-shirt, umas jeans e uns ténis também transmite estatuto.
Vemos vários empreendedores utilizarem ténis em conferências e eventos, no sentido de mostrarem a descontracção do mundo do trabalho. Tal contrasta com o fato e a gravata dos colaboradores da bolsa de Wall Street. Ao usarem o look descontraído, transmitem a mensagem de que não é a roupa que sá o título de CEO ou que traz sucesso. Contudo, tal como Zuckerberg, estes empresários utilizam sapatos mais caros e de edições limitadas. Desta forma, eles próprios utilizam algo que só está disponível para um «clube» de pessoas com milhões de dólares, evidenciando mais a diferença para com outras pessoas. O empresário e o empregado podem utilizar ténis da Nike mas certamente não serão os mesmos modelos.
Falando num contexto empresarial, a farda pode ajudar na coesão de equipa.
Para as empresas, a cultura empresarial é um factor motivador, que faz os colaboradores vestirem a camisola. Ter uma equipa empenhada e coesa é o objetivo de qualquer director de RH. E recorrer a fardas e outros adereços pode ajudar a estimular o espírito de equipa.
Uma empresa como a Google pode passar essa imagem para o exterior. Para além da decoração do espaço, algum merchadising específico ou vantagens no local de trabalho podem mostrar a outras empresas o quão bom é fazer parte da Google. Os trabalhadores da Google têm essas regalias e por vestirem a camisola, podemos pensar que essa pessoa tem determinadas características que outras pessoas não têm. Contudo, trabalhar na Google não torna uma pessoa melhor ou pior, é apenas mais uma característica. Mas não conseguimos categorizar as pessoas e ignorar estes detalhes.
De facto, a moda é mais uma forma de comunicação interpessoal. A primeira impressão de alguém ocorre ao primeiro olhar e a roupa certamente faz parte disso. Usar uma farda rapidamente dá-nos a ideia de pertença a um grupo e tal vem com valores associados. Não estou a dizer que não é possível escapar. Contudo as organizações devem estar atentas a estas questões quando se trata de promover a cultura da empresa. Há que envolver os colaboradores nos mesmos valores e sentido de missão deixando-os brilhar com a sua individualidade.