Ser empreendedor está na moda, mas não precisamos todos de o ser para sermos felizes. Porque podemos não ter o nosso próprio negócio.
É uma ideia que me foi difícil de apreender, mas penso que faz todo o sentido.
Desde que comecei a escrever sobre empreendedorismo e carreira, pensei que um dia iria ter o meu próprio negócio. Era a boa maneira de viver a vida, era a maneira de ter independência financeira e liberdade criativa. Como sai para o mercado de trabalho com a crise, não queria depender de ninguém ou esperar que alguém me desse um trabalho.
Assim ter um negócio próprio sempre foi a solução
Contudo, quando comecei a ler mais sobre o assunto percebi que era complicado – ou melhor um desafio trabalhoso. E quando tive uma breve experiência em network marketing soube que ter um negócio não era pêra doce. É preciso muito tempo, skill, sacrifícios. É preciso dedicar tempo e todos os outros recursos para tal.
Se não tenho um negócio próprio, algum dia vou ser empreendedora?
Foi este o tema central da talk da Sheworks, criada pela Catarina do blog Joan of July. Uma espécie de conferências para mulheres puderem falar abertamente sobre trabalho e como este influencia as nossas esferas pessoais e profissionais. A primeira sessão teve como convidada a Vânia, do Lolly Taste e a pergunta que dava o mote da conversa era pertinente:
Será o empreendedorismo a única via de realização profissional?
Falou-se muita da onda do empreendedorismo, em que vemos nas redes sociais apenas o lado bom que é contado para criar uma história do herói que se supera e ganha a glória. Ficam obscuros os detalhes que não aparecem tão bem na fotografia: a estabilidade familiar, o conforto financeiro, os apoios não falados, os sacrifícios não descritos, a rotina de atalhos não revelada.
O empreendedorismo é exaltado como a única forma de ser bom, e que ter um das nove às cinco é ser escravo e idiota.
Já posso ter pensado assim, mas sei que não é verdade. A minha experiência ajudou-me a perceber isso.
A realização pessoal é, tal como o nome diz, um processo individual. Aquilo que completa pode não ser aquilo que completa os outros. A verdade é que o negócio próprio pode trazer algumas vantagens de independência e liberdade, mas traz também outros compromissos. Sempre aprendi que liberdade é responsabilidade pelo que o não ter horários fixos ou um chefe a quem dar feedback cria exactamente o oposto: o termos de ter os nossos próprios horários e sermos o nosso próprio chefe. E para isso é preciso motivação, mas não daquele tipo que vocês estão pensar.
Muito desta conversa vem de um desafio atual que vivemos em sociedade que é a comparação.
Vivemos numa sociedade em que é possível ver o que outro está a fazer, pois estes partilham uma parte da sua vida que respira glamour e perfeição. A partilha nas redes sociais pode levar a pensar que se não fizermos exactamente o que os outros estão a fazer, estamos a desperdiçar tempo e temos é de «arregaçar as mangas e ir viver como deve de ser».
Contudo, esta ideia de felicidade está errada. A felicidade não está nos outros, mas em nós. Ser feliz é um processo individual, único e decidido pelo indivíduo.
O mesmo se passa com a nossa carreira. Existem imensas possibilidades e caminhos a seguir, pois temos um mercado mais dinâmico. No meio de tanta escolha, pode ser difícil escolher e tomar uma decisão até ao fim. Temos, ainda assim, a vantagem que, se correr mal, tentar de novo e tentar melhor.
Aqui que posso dizer é que o empreendedorismo pode ser uma solução de carreira para alguns sim, mas não para todos. E não tem de ser para todos.
Se queres considerar isso na tua carreira, tem realmente noção do trabalho, esforço, tempo e recursos que terás de aplicar. Como a Vânia falou, o empreendedorismo não é «um salto de fé» para a boa vida: é um salto calculado, planeado, debatido, decidido. O empreendedorismo não deve ser uma salvação da alma, mas sim um desejo de fazer algo por nós próprios porque é o gosto que temos.
Sei bem que o empreendedorismo como solução para tudo apareceu no período de crise por questões lógicas. O salário é um meio de sobrevivência e se ninguém me contrata para me «dar» um salário, então eu devo criar o meu próprio salário. Tal não está é errado e é até louvável, pois é a criatividade e a inovação que fazem crescer a economia.
Contudo, o empreendedorismo não é A solução. É uma solução, dentro de muitas, temporária ou permanente para algumas pessoas.
O empreendedorismo é uma decisão de vida e de carreira profissional que serve para uns e não serve para outros. Quem escolhe essa via não é mais especial do que outros que não a tentaram. Quem não escolhe essa via atualmente pode estar a limitar a sua vida, mas, honestly, cada um sabe de si.
Se podemos ajudar pessoas a mudarem de vida com o empreendedorismo? Podemos. Se temos de dizer à pessoa o que é melhor para a sua vida financeira e profissional, baseado na nossa experiência e valores? Não, penso que não.
No fundo, após duas horas de conversa, a Vânia chegou à conclusão: cada deve fazer pela sua vida e todas as opções são opções. Cada um pode escolher e voltar atrás; ou escolher e perseguir uma vida diferente. No que toca ao sucesso profissional, cada um deve saber de si. Podemos dar ao mundo alternativas para fazer um caminho que pensamos ser melhor, mas cada um tem uma vida e deve escolher o caminho que quiser.