Adorei ver o filme da Wonder Woman e deixou a pensar sobre o sexismo atual.
Ir ao cinema e ver filmes é uma inspiração, porque há argumentos e personagens tão bem escritas que me fazem pensar sobre diversos temas. E foi o que aconteceu há uns dias.
Fui ver o filme da Wonder Woman
Gostei imenso do filme porque, além de ver o quão badass é ver uma mulher a lutar um filme inteiro e a comandar uma equipa, há outras questões que me fizeram reflectir.
(AVISO: PARA QUEM AINDA NÃO VIU O FILME, HÁ SPOILERS)
O universo onde vive Diana é um mundo bastante diferente do nosso, pois não existem homens. Num mundo só de mulheres guerreiras e treinadas para proteger a humanidade, a guerra não faz sentido. Apenas o diálogo e a paz existem. Contudo, quando passamos para o mundo de homens, a guerra é uma maneira de mostrar a força e o poder.
Para a inocente Diana, a humanidade entra em guerra porque está sob influência de um poder maior. Ela argumenta que, se fossem realmente lógicos e racionais, não existiria guerra. Ou seja, numa ilha cheia de mulheres, não há lutas de poder. Já no mundo dos mortais, há discórdia.
E comecei a pensar: será que as mulheres sabem viver em paz e os homens só sabem viver em guerra? Haveria menos discórdia e mais diálogo se a maioria do mundo fosse governado por mulheres? É uma ideia interessante mas que necessitaria de uma reflexão só de um post.
Outros pensamentos sobre o sexismo
Outras cenas de que gostei muito foi quando a Diana chega ao mundo dos homens e da política. Estamos em 1910/1920 e por isso já podem bem imaginar o sexismo que havia e que vemos no ecrã.
Diana entra numa sala em que vários ministros falam e um deles fica indignadíssimo por o senhor ter deixado uma mulher entrar na sala. As mulheres não podiam entrar em salas em que os homens estavam a falar de política. Naquela sala, ela não é um ser humano, é uma mulher. Logo a sua presença é mais do que proibida, pois a Política não é assunto para donas de casa. É um brutal exemplo de como vivíamos e como isso não faz nenhum sentido.
Vemos também esta realidade em alguns filmes, por exemplo no Titanic. Todos podem jantar, mas depois os homens vão para uma sala abordar “temas sérios” e as mulheres ficam a falar umas com as outras. Também ocorre no The Post, em que a personagem de Meryl Streep acaba o jantar e, enquanto os homens falam de negócios, as mulheres falam de rumores e coisas da lida da casa. Isto mesmo quando a personagem de Streep é dona de um negócio e estamos em 1970.
Mas houve uma cena no filme da Wonder Woman que me marcou
A cena é quando os personagens encontraram um livro e tinham de decifrar a sua língua. A única pessoa na sala que sabia falar essa língua era a Mulher. A única que podia descodificar um código que poderia levar à paz era uma mulher e mesmo assim não acreditaram nela nem deram credibilidade. Se fosse um homem a saber decifrar o código, óbvio que lhe iam dar ouvidos, mas uma mulher?
Como é que a mulher pode saber? A mulher pode ser um ser dotado de inteligência? Uma mulher pode saber a verdade?
Claro que esta cena está contextualizada numa mentalidade que se passou há cem anos atrás. Ainda assim, hoje este comportamento acontece, de homens para mulheres e de mulheres para mulheres. O mansplaining – a maneira como um homem fala a uma mulher de forma condescendente, inferiorizando-a – continua bastante presente em pleno século XXI.
A personagem Diana nasceu e cresceu num mundo rodeado de mulheres guerreiras, fortes, determinadas, assertivas, altruístas. Ela não via a lógica na discórdia, no sexismo, no desrespeito no outro. Ela não sabia o que era o não reconhecimento dos seus semelhantes e dos seus talentos.
Para ela, todas as mulheres tinham poderes humanos: destreza, determinação, resiliência, inteligência emocional, liderança, preocupação e cuidado com o mundo em geral. Mas quando vai para o mundo dos homens, elas “perdem” essas qualidades porque são mulheres!! Mas porquê?
São muitas as perguntas que fiz após o filme
- Porque haveriam de deixar de ser ouvidas se são fortes e inteligentes e podem activamente mudar o mundo?
- Porque existe o sexismo?
- Gostamos de continuar a ter esta atitude perante as mulheres?
- Queremos duvidar delas quando nos dizem que têm problemas e simplesmente respondemos “estás a exagerar?”
- Porque quando uma mulher conta a história de que foi violada, porque duvidamos da sua dor e pedimos que nos conte uma história que faz sentido? E como podemos pensar que determinada peça de roupa vestida manda a mensagem “estou a pedir para levar porrada”?
- Conseguimos pensar que alguém tem sucesso é porque fez alguma artimanha ou teve influência sobre alguém?
- Achamos que a mulher tem de provar imensas vezes que é uma boa profissional quando simplesmente uma bastava?
No mundo das Amazonas, estas perguntas não existem.
No mundo de Diana, e no filme da Wonder Woman podíamos ver, todas as mulheres eram iguais. Elas treinavam, todas lutavam, todas aprendiam, todas se entre-ajudavam, se motivavam, funcionavam como um órgão único, como uma verdadeira equipa. Se a inocentezinha da semi-deusa conseguia perceber que o mundo está uma merda porque há uns quantos chicos espertos que acham que devem ser mais que os outros enquanto o mundo tem de sofrer à custa de dinheiro e poder.
Já que estes dois valores totalmente irrealistas e imaginários, como é que nós não percebemos isto?
O sexismo não devia existir, ponto
Esta era a conclusão que cheguei após ver o filme. O sexismo não deveria existir.
A própria personagem da Wonder Woman pode ser vítima de críticas por não representar de forma real as mulheres e a sua luta. Mas pelo menos o argumento do filme que fui ver clarificou muitos tópicos que estão a influenciar o nosso mundo de uma forma negativa. E estes têm de ser discutidos urgentemente, por homens e mulheres.
Porque se somos a geração mais tecnologicamente desenvolvida, mais inteligente, mais saudável, e mais iluminada, ainda há lugar para estupidezes que têm uma solução clara e imediata?
Assim, o que posso recomendar é que vejas o filme da Wonder Woman e reflictas sobre aquilo que viste. Pode-te ser útil e é uma boa experiência.