Eu sei disto, mas há acontecimentos que te relembram disto e te assustam.
No outro dia fui a uma reunião numa dita agência de comunicação que estava a ser formada. Fiz o contato por telefone e depois apareci na reunião passados uns dias. Fui para um espaço de co-working e percebi que as pessoas que iriam ser meus clientes seriam…putos?
Raparigas com longos cabelos que trabalhavam de camisola, umas calças e umas botas; um rapaz de cabelo franzino e muitas borbulhas no rosto e uma voz que parecia que não tinha passado pela puberdade. Que perguntou se queria café e começou a explicar que tinha uma empresa porque era freelancer e juntou-se com outros freelancers e criou a agência. Que tinha cada vez mais clientes e que estava a crescer. Que estava à procura de uma solução para que os Clientes não lhe ligassem ao fim-de-semana, muito menos à meia-noite.
O meu futuro cliente era um miúdo. Um puto. Parecia que tinha 16 anos mas tinha de ter 19 no mínimo. E se tinha ido para a faculdade, teria de ter no mínimo 21 anos. E se ele tivesse 19, 20 ou 21 anos, poderíamos ter andado na mesma faculdade, podíamos ter amigos em comum, podíamos tomar café e beber copos no mesmo sítio.
Ser jovem é sonhar e ter todos os sonhos do mundo mas também é ter mais liberdade para agir e correr riscos. Quando eu sai da faculdade, o meu risco era ir para fora ou mandar currículos para todos os lados. Eu quis que alguém me desse um emprego mas este miúdo/cliente percebeu que podia criar o seu emprego com a sua skill. Este miúdo/cliente já estava do lado que eu queria estar mas ainda não tinha chegado lá: por medo, por não ter uma ideia planificada, por não ter uma rede de suporte, por querer esperar mais tempo. Este miúdo/cliente já tinham tudo o que eu queria e eu pensava então o que me falta?
Este miúdo/cliente pôs-me a pensar que me dá ainda mais ganas de fazer coisas diferentes e ter projetos à minha maneira. Este miúdo, para mim, já tem tudo. E eu ainda não tenho nada – mas vou ter. Passo a passo, vou ter tudo. Não tudo a que tenho direito, mas tudo aquilo que estou a construir. E esse é que é ser grande: querer tudo, mas trabalhar para o ter.