No Dia Mundial da Poupança, não basta só dizer que há que poupar dinheiro. Há, afinal, de poupar muita coisa.
Hoje é dia de Halloween, mas também é o Dia Mundial da Poupança, um tema que não deveria ser um terror, como brincou a minha colega do trabalho.
De facto, falar de dinheiro nunca é um bom tema. Aliás, é um tema muito sensível que cria discórdia e inveja nas pessoas, pelo menos na realidade portuguesa, em que dizer aos colegas quanto se ganha é sempre ponto de partida para comentários insultuosos.
Não sabia antes que havia um Dia Mundial da Poupanças, mas existe, o que quer dizer que é um tema importante a nível mundial. Como trabalho numa consultora de finanças pessoais, oiço falar deste tema, e falo sobre o tema, todos os dias, portanto acho que ele é muito importante.
A poupança é importante porque nos ajuda a viver amanhã. Mas não é só por causa dos imprevistos.
Esquecemo-nos muito de como o mundo funciona e porque realmente precisamos de dinheiro.
Recebemos dinheiro porque precisamos de comprar coisas, como casa, comida, cuidados de saúde, transportes para ir para o trabalho, roupa. Todos os dias gastamos dinheiro e portanto precisamos dele.
Também há muita gente que recebe menos dinheiro do que aquele que necessita, sendo a pobreza um problema atual bastante sério e que tem sido combatido a nível estatal, associativo e popular. Nos últimos anos, o fosso entre os pobres, a classe média, os ricos e os muitos ricos é abismal, dizendo que a classe média – que sustenta a economia – poderá desaparecer.
No nosso dia-a-dia, se não vivermos em pobreza, tentamos viver abaixo das nossas possibilidades. A nossa maior luta é conseguir pagar tudo o que temos e sobrar algum no final do mês. Sobrar para aguentar o próximo mês, para continuar a pagar as contas importantes, para pagar as despesas que virão daqui a meio ano, para ter a oportunidade de tirar férias ou fazer outras coisas no dia-a-dia.
Se não conseguimos poupar, podemos até aguentar o barco, mas vamos afundar em breve.
Se és daquelas pessoas que não poupa assim muito mas tem a situação controlada, desengana-te. Tu, tal como eu há uns meses, podes pensar que poderás começar a poupar mais tarde mas tal pode não ser possível.
Todos os anos o teu custo de vida torna-se mais caro. Todos os anos, a inflação faz com que o preços subam. Podes não notar quando bebes o teu café preferido, mas se somares tudo, vais notar. Se antes no supermercado gastavas 70 euros por mês, por exemplo, no próximo ano irás pagar 70,50 euros ou mais. Ou seja, terás de poupar mais uns quantos euros para ires ao supermercado para o ano. Agora imagina isto numa escala global. O teu supermercado fica mais caro, a tua prestação mensal de crédito habitação fica mais cara, o pacote das telecomunicações e do telemóvel sobem uns cêntimos, a água e a luz também vão fazer subir a fatura.
Ou seja, amanhã vais precisar de mais dinheiro do que hoje. Mas o teu salário não sobe todos os anos, certo? Pois, é uma posição chata.
A melhor forma de fazer frente a isto é começares a poupar. E sabes que poupar é gastar menos do que tens. Fazeres um orçamento e veres onde gastas o dinheiro é fácil.
Podes recolher todos os papéis que guardas na carteira e coloca-los numa folha de Excel. As somas dizem-te quanto andas a gastar por mês (e vais-te surpreender). Podes descarregar uma app e perceber onde gastas mais dinheiro. Podes consultar o teu extrato bancário e perceber que cada «menos», é menos dinheiro no final do mês, poupando pouco.
A ideia de poupar nunca me foi nova, pois felizmente fui ensinada a gerir o meu dinheiro desde cedo, com a mesada. Percebia que se não tinha dinheiro para gastar, não podia comprar as coisas que queria, logo a moderação permitia-me ter tudo o que queria em boas medidas.
Mas as contas que fazia da mesada não podem ser as mesmas contas. Hoje já penso na conta do supermercado, nos seguros, nas viagens, na formação, na casa que gostaria de ter. Por isso, poupar ganha um significado maior.
Poupar não está nos grandes gestos, mas sim nos pequenos.
Antes, poupar era uma tarefa fácil. Se eu quisesse ter uma camisola ou um bilhete de concerto, teria de poupar para ter mais dinheiro ao final do mês. Ou mesmo que comprasse, em dois ou três meses reavia o investimento.
Contudo, a vida de adulto é mais complicada, pois implica mais gastos e maiores. Já não dá para gastar dinheiro e pensar que vou reavê-lo em poucos meses. Não consigo passar uma semana sem abrir a carteira e já estou a ser muito optimista. A vida consumista que nos rodeia torna natural o gasto de dinheiro diário sem grandes preocupações ou consciencializações. Podemos ir vivendo e gastando que quando realmente precisarmos dele, a poupança que temos vai certamente ser suficiente.
Contudo, tal como na estrada para o sucesso, a vida financeira não se faz de grandes gestos, mas sim de pequenos.
O latte effect pode realmente acontecer nas nossas vidas. É um modelo que nos mostram como pequenos gastos do dia-a-dia podem ter um grande peso no teu orçamento familiar.
Eu própria fiz as contas:
Bebo dois cafés por dia e gasto sempre 1,20€ por dia, no final do mês terei gasto 36€ e no final do ano são 432€ – já dava para uma boa viagem! E se usasse o dinheiro para guardar numa conta poupança? Ao final de 5 anos, já teria 2160€ que podem dar uma ajuda em despesas futuras.
Parece que estes exercícios são um pouco evangelizadores mas o meu objetivo é que fiques a pensar: sou eu que controlo a minha carteira ou ela é que me controla?
No Dia Mundial da Poupança, percebo que poupar é um exercício de sobrevivência mas também de poder. Para poupar dinheiro, tenho de estabelecer prioridades e perceber no que realmente vale o meu dinheiro.
Tenho de perceber que, desde a mais pequena despesa até à maior, toda ela influencia o meu futuro. Não vou deixar de beber café, por exemplo, mas posso arranjar formas de beber café mais barato. Não vou deixar de comer fora, mas posso escolher a frequência com que vou almoçar ou tomar o pequeno-almoço fora. Não vou deixar de comprar roupa ou de aproveitar promoções, mas posso perceber o que faz sentido para mim.
Poupar é criar bons hábitos. Poupar é saber dizer não a algumas coisas para dizer sim a outras. Poupar é saber como usar o dinheiro, em que coisas mas também em que tempos.
Muitas vezes sou levada a comprar coisas que não preciso no imediato mas que vou possivelmente precisar no futuro. Contudo, esqueço-me que vou ter o mesmo dinheiro no futuro, portanto não preciso de comprar já para usufruir depois. Há outras compras em que comprar já é oportunidade para o futuro – daí dizer que é preciso saber gastar bem e no tempo certo.
No Dia Mundial da Poupança, faço um reset ao meu budget e ao meu diálogo interno. Percebo que os bons hábitos vêm de boas ações e que as boas ações vêm de bons pensamentos. Se não souber controlar ou equilibrar os meus pensamentos, irei comprar por impulso ou gula ou inveja.
Assim para poupar, pensa no teu presente e no futuro que queres ter, reavalia os hábitos que tens e preparar para mudar um pouco a tua vida. Não tens de poupar tudo, apenas tens de começar e aos poucos verás a diferença. Boas poupanças!