Neste Dia Internacional da Mulher, gostaria apenas de deixar a mensagem que todas temos de nos apoiar pois não somos a competição uma das outras.
Há uns meses atrás, quis escrever um artigo com o título «Queridas Mulheres, há lugares para todas». Falava um pouco como nós mulheres competimos umas com as outras em vez de darmos a mão.
Com o Dia Internacional da Mulher, lembrei-me deste tema quando vi um vídeo da Sallie Krawcheck.
A Sallie é CEO e co-fundadora da empresa Ellevest, uma consultora financeira digital para mulheres lançada em 2016. Ela esteve recentemente no The Daily Show With Trevor Noah, um programa que já assisto desde os 20 anos. Em apenas três minutos, a Sallie esclareceu bem o que acontece com o mercado de trabalho atual e as mulheres:
Trevor: Por vezes são as mulheres que ajudam cada vez menos as mulheres a subir, certo?
Sallie: Ah! Agora é que estamos a falar! Pois esse é o ambiente empresarial que vivemos. Elas olham para a liderança e pensam: está ali uma mulher, duas mulheres, uma pessoa de raça negra, por exemplo. Já sei: para poder estar naquela mesa de liderança, eu não estou a competir com todas as pessoas que estão no mesmo patamar que eu, eu estou a competir com ela!
Assim, ela está a ser economicamente eficiente, pois ela sabe que se quer aquele lugar, ela sabe quem é que terá de sair da liderança para ela estar lá.
Trevor: E como mudamos este pensamento?
Sallie: Bem, a resposta simples é que tem de vir do topo, mas surpreendentemente, também deve vir das bases. O que começamos a ver é que as mulheres separaram-se. Lembraste quando andávamos todas na universidade e íamos de férias juntas, íamos às festas juntas? Andávamos todas como se fosse um grande grupo e depois chegamos ao mercado de trabalho e competimos umas com as outras.
O que as Millennial estão a fazer é a juntarem-se e a mudarem a sociedade ao estarem juntas e a apoiarem-se
Com este vídeo queria apenas deixar esta mensagem de que se juntos fazemos a força, então juntas fazemos ainda mais força.
Cada vez mais vemos que o sucesso feminino é quase individual, porque custa a chegar ao topo.
Quando se trata de sucesso, acho que nós mulheres ainda não sabemos lidar bem com isso. A descriminação salarial, a falta de mulheres no topo de organizações mais poderosas do mundo, o preconceito que as mulheres líderes enfrentam, fazem com que as oportunidades de sucesso sejam mais pequenas.
Por isso, sempre que alguém chega lá, instala-se uma pequena inveja e começam os comentários parvos de que a pessoa só chegou lá com «ajuda», «cunha», «um atalho pouco digno». Tal como a Sallie diz, quando vemos uma mulher no topo, não vemos um exemplo a seguir, mas sim um alvo a abater.
Assim, neste Dia Internacional da Mulher, quero apenas dizer para nos apoiarmos e não nos vermos como uma ameaça.
Neste dia devemo-nos lembrar que não somos inimigas umas das outras, mas sim companheiras. Mesmo no local de trabalho, a competição é com os nossos pares, não com a mulher que já lá chegou. Há espaço para mais e para todas, não é vermos um lugar como o único lugar disponível. Porque não criarmos o nosso próprio lugar?
A atual sociedade mais dinâmica permite-nos ter a vida que queremos e escolhemos, com uma flexibilidade muito maior. As possibilidades são as mesmas, as limitações são da sociedade e do nosso círculo de amigos. Se houver alguém que nos diga que podemos ser tudo, porque não podemos ser tudo?
Porque continuamos a dizer umas às outras que não somos capazes? Porque retiramos o sucesso da outra quando ela trabalhou para isso? Porque achamos que aquela que nos «roubou» o namorado é a víbora, quando foi ele que fez uma escolha? Porque continuamos a pensar que uma mulher poderosa e forte é um homem? Porque achamos que uma mulher independente é uma ameaça e não uma peça fundamental para uma sociedade mais inteligente e justa?
Esta mensagem continua a fazer sentido e muitas vezes são as próprias mulheres que se prejudicam umas às outras. São muitas vezes as mulheres que dizem não ser feministas, pois acham que certas e determinadas opiniões ditas feministas põem a sua liberdade de expressão e pensamento em causa. E não poderiam estar mais erradas com isso.
Digo e tenho de o dizer todos os dias: feminismo não é a mulher ser melhor que o homem. Feminismo é sermos iguais. Chama-se feminismo porque o nascimento do movimento era em prol das mulheres.
Há quem goste de se chamar humanista ou igualitarista em vez de usar a palavra feminismo. Não estão errados, mas estão errados quando o feminismo não é ser igual, quando o é (podem verificar a definição no Priberam aqui). A «luta» começa aqui e começa todos os dias de cada vez que alguém não acredita numa sociedade igual e justa independentemente de cor, raça, orientação sexual, género e outras descrimincações.
Por isso neste Dia Internacional da Mulher dirijo-me às mulheres. Que olhem umas para as outras como aliadas. Que dêem as mãos para poderem ter ajuda na conquista dos seus sonhos. Que estabeleçam o diálogo mesmo com ideias opostos para perceberem a outra. Que estejam atentas a outras realidades diferentes das suas em todos os géneros e etnias.
Que se recordem que há muita gente por este mundo fora que é agredida, violada, raptada e morta por ser mulher. Que os milénios de História nos lembrem que quando um país entra em guerra, a principal medida é limitar os direitos de quem reproduz, de quem tem o poder do futuro. E que os episódios de libertação pós-guerra nos digam sempre que a forma que o inimigo tem de mostrar vitória é de abusar das mulheres que nada fizeram.
Neste Dia Internacional da Mulher que haja tudo o que haveria de existir entre todos os seres humanos: empatia, diálogo, respeito e amor. E nós próprias somos a primeira fonte de sucesso.