Uma ou várias carreiras? Mudar totalmente de profissão ou ficar no mesmo sector? Esta simples questão pode-te ajudar a decidir as mudanças durante a tua carreira.
Falar de carreira em 2020 não é o mesmo que falar de carreira há 30 anos atrás. Muito muito desde então e por isso é preciso ter uma diferente perspetiva sobre o tema.
Atualmente existem vários fatores que influenciam a visão sobre a tua carreira.
Não existe uma carreira, mas sim várias carreiras.
Há 30 anos atrás, parece que era fácil ir para o mercado de trabalho. Bastava escolher uma profissão e desenvolvê-la para o resto da vida. Quem ia para advogado, era advogado a vida toda. Médicos, enfermeiros, arquitetos, mecânicos, pessoas do marketing ou da contabilidade. Estudar era passar na escola nove anos e chegar aos quinze anos e ir trabalhar. Há quem conseguisse ir para o ensino superior e começar assim a sua carreira. Já outros apenas tinha de arregaçar as mangas e levar dinheiro para casa.
Para as profissões, havia apenas uma carreira. Por vezes dentro da mesma empresa ou então no mesmo sector. Há histórias de empresas familiares em que alguém começou como secretária e passados 20 anos era administradora. Porque aprendeu tudo sobre o meio e a empresa e por isso tinha as competências e o conhecimento para liderar. Começar por baixo e progredir era certo, daí ser importante conhecer o patrão, dar-se bem com os colegas e profissionalizar para se ser manager ou diretor.
Teres várias carreira significa que existe mais mobilidade.
O dinamismo do mercado fez com que possas trabalhar 10 anos numa indústria e depois mudar para outra. Tal é possível devido à transferência de competências, que é mais rápida, e à possibilidade de as fazer online. O próprio ensino superior tornou-se mais acessível e segundo dados da PORDATA, o número de diplomados do ensino superior subiu de 78.609 em 2010 para 83.193 em 2019.
A mudança de carreira acaba por ser feita pelas oportunidades de trabalho, o crescimento dentro de uma empresa ou indústria, ou a aposta numa formação numa nova área de estudo que permita a transição. Com o aumento de oferta de pós-graduações em universidades ou de cursos online certificados por universidades estrangeiras (caso do Coursera), muitos profissionais podem escolher não trabalhar na área da sua licenciatura e começar o seu percurso noutro contexto. Também é possível passados cinco ou dez anos, um profissional “cansar-se” de uma indústria e apostar numa mudança.
Para além da carreira e da educação, as soft skills também mudam as regras do jogo
A transformação digital nas empresas mostrou a importância das soft skills. Com a tecnologia, existem muitas funções técnicas que podem ser desempenhadas por máquina. Assim pede-se mais das pessoas. Pede-se pensamento crítico, growth mindset, liderança. A resiliência de trabalhar em diferentes contextos e de estar preparado para abraçar novas competências digitais faz com que não se pense em empregos para a vida. O que hoje é verdade, daqui a uns anos pode ser obsoleto e vice-versa.
Por exemplo, o trabalho remoto (ou o teletrabalho que assistiu em confinamento) era considerada uma realidade ainda muito jovem em Portugal. A maioria das empresa adotava um local de trabalho específico e os seus colaboradores deslocavam-se até lá de segunda a sexta-feira. Algumas empresas de espaços de cowork tentavam ganhar mercado e convencer que ter um local mais dinâmico traria vantagens. E já falava com alguns amigos de que seria interessante trabalhar uns dias por semana em casa, pois ajudava a organizar a vida e a perder menos tempo em deslocações. Em pleno 2020, essa tornou-se a realidade para muitos e pode totalmente mudar o panorama do trabalho.
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Construir uma carreira num mercado muito dinâmico pode não ser tarefa fácil. Devo mudar de trabalho num período de crise económica? Vale a pena investir milhares de euros naquele mestrado? Vou ter mais qualidade de vida se procurar um emprego 100% remoto? Devo experimentar mudar de sector? Como consigo entrar naquela empresa?
Há uma pergunta te pode ajudar a decidir: isto é um meio ou um fim?
Esta foi uma das perguntas que mais me ajudou a pensar na minha carreira e os próximos passos que queria dar.
Falo de um exemplo com a escrita de conteúdos.
Investi recentemente em cursos de marketing digital para melhorar as minhas competências, de forma a pensar em trabalhar em conteúdos de forma exclusiva. Ter o meu próprio blog era uma dica de que o meu caminho profissional deveria passar pela escrita.
Contudo, fiz esta mesma pergunta: escrever é um meio ou é um fim? É um meio para partilhares as tuas ideias ou é um fim para poderes ser profissional em conteúdos?
Fiz a mesma pergunta sobre marketing digital: quero saber de marketing digital como um meio, pois estes conhecimentos são úteis para o contexto profissional em que trabalho ou é um fim, de que quero ter esta profissão?
Percebi com estas duas questões que tanto a escrita como o marketing digital são meios. Estando mais interessada na componente da comunicação como um todo, perceber de digitalização é um meio para comunicar melhor. Saber escrever melhor é um meio para expressar as minhas ideias e mostrar os meus conhecimentos de especialista.
Podes aplicar esta pergunta à tua carreira e a tantos outros cenários?
Ler sobre empreendedorismo é um meio ou um fim? Um meio para simplesmente aprender ou um fim para criar uma empresa?
Ter como hobby ser DJ é um meio para te divertires e explorares a tua criatividade ou é um fim, pois é a tua carreira de sonho?
Criar um side hustle é um meio para teres mais rendimento disponível ao final do mês ou é um fim, que queres ser o teu próprio patrão?
Queres fazer o mestrado em tecnologia como meio para chegares a uma indústria ou é um fim, pois queres aprender sobre programação para seres programador?
Teres como objetivo ser manager de uma equipa é um meio para aplicares as tuas ideias numa empresa ou é um fim último?
Esta é uma pergunta chave para a tua carreira, pois ajuda-te a escolher um caminho
Podemos ter várias carreiras e estas certamente estão interligadas. Nem que seja porque quando tens um novo trabalho vais levar contigo experiências e competências de outros. E mesmo quando mudas totalmente de indústria, as tuas soft skills continuam a ser desenvolvidas todos os dias.
No momento da decisão, saber se uma formação ou um passo que estás a dar é um meio ajuda-te a medir também o investimento que estás disposta a fazer. Se esse mesmo for um meio, também te permite pensar na mudança de forma estratégica, e vais estar menos ansiosa e mais focada em fazer um percurso com qualidade.