Para começar o ano peguei num livro de 600 páginas recomendado para alunos de Relações Internacionais. Eis a review de “A Era dos Extremos”.
Antes de entrar em confinamento no início de 2021, fui a casa dos meus pais buscar alguns livros pesados esquecidos na livraria que ainda não tinha lido.
Lá estava o “A Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawm, uma prova da pós-graduação que fiz de Relações Internacionais, na NOVA FCSH, depois da licenciatura. Não terminei a tese, interrompi os estudos e mergulhei a 100% no mercado de trabalho sem olhar para trás. Contudo,a História e a realidade internacional sempre me interessaram e pareceu um bom momento para ler algo diferente.
Ficha técnica
Título: A Era dos Extremos: História Breve do Século XX 1914-1991
Autor: Eric Hobsbawn
Ano: 1996 (1ª edição), 2011 (5ª edição)
Editora: Editorial Presença
Resumo
É um livro recomendado a alunos do primeiro ano, na altura, pois descrevia os vários eventos do século XX, bem como as relações entre os países ao longo de duas guerras mundiais, uma Guerra Fria e o colapso de um império soviético.
Existem vários apontamentos que tirei e é um livro denso, mas lê-lo fez-me aprender mais e mais. Sem dúvida que estes livros mostram a visão de um historiador e existem outras visões. Mas parece-me uma visão completa e equilibrada, com diferentes dados sobre a realidade política, militar e social, sem esquecer de falar dos movimentos feminismos, da arte e da ciência.
No seu geral, o que gostei mais sobre a “Era dos Extremos” é que adoro ler história pois aprendo muito sobre o passado, as instituições, a politica e a economia. No entanto, aprendo ainda mais sobre pessoas. Como pensavam, como se sentiam, porque agiam da maneira como agiam. Tal como explica o autor, é muito fácil explicar os eventos depois de eles acontecerem. Ou seja, uma Segunda Guerra Mundial foi facilmente explicável depois de estoirar e muitos académicos desconfiavam que a Alemanha não se ia aguentar com o Tratado de Versailles. Da mesma forma que olhamos para a economia. É fácil perceber o crashes, as desacelraçoes ou a crise do petróleo depois de elas aconecerem, mostrando como o capitalismo.
Mas prever o que vai acontecer daqui a cinco ou dez anos, ou de que forma determinado acontecimento influencia o mundo – faz parte do campo da futurologia.
Notas
Houve muitos elementos que aprendi com este livro. Deixo assim algumas notas relevantes que encontrei n’ “A Era dos Extremos”.
“Desde o início dos anos 30, outro período de depressão, não houvera nada semelhante ao dramático colapso do apoio eleitoral, em fins dos anos 80, inícios dos anos 90, aos partidos estabelecidos com longas folhas de serviço no Governo.Em suma, durante as Décadas de Crise as até então estáveis estruturas da política nos países capitalistas democráticos começaram a desabar. E o que é mais: as novas forças políticas que mostraram o maior potencial de crescimento foram as que combinavam demagogia populista, uma liderança pessoal altamente visível e hostilidade para com os estrangeiros. Os sobreviventes da era entreguerras tinham motivos para sentirem desencorajados.”
“A Era de Ouro alargou esse abismo, pelo menos até aos anos 70. Como podiam rapazes e raparigas criados numa era de pleno emprego compreender a experiência dos anos 30, ou, caso contrário, uma geração mais velha entender jovens para os quais um emprego não era um porto seguro após mares tempestuosos (sobretudo um emprego seguro, com direito a reforma), mas uma coisa que podia ser conseguida em qualquer altura e abandonada em qualquer altura em que a pessoa tivesse vontade de ir passar uns meses ao Nepal?
Esta versão do conflito de gerações não se restringiu aos países industriais, pois o impressionante declínio do campesinato criou um abismo semelhante entre gerações rurais e ex-rurais, manuais e mecanizadas.”
O autor terminou o livro em 1994, não analisando em pormenor as consequências da queda da URSS, muito menos entrando no novo milénio. O autor já faleceu, mas gostaria muito que continuasse a falar sobre os próximos eventos. Precisamos de um novo Eric Hobsbawn para escrever sobre os primeiros 25 anos do século XXI, porque já tanto mudou nas últimas décadas, passíveis de preenchernovas 600 páginas de livro. No final ele termina:
O futuro não pode ser uma continuação do passado, e há sinais, tanto externamente como internamente, de que chegámos a um ponto de crise histórica. As forças geradas pela economia tecno-científica são agora suficientemente grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações materiais da vida humana. As próprias estruturas das sociedades humanas, incluído mesmo algumas das fundações sociais da economia capitalista, estão na iminência de serem destruídas pela erosão do que herdámos do passado humano. O nosso mundo corre o risco de explosão e implosão. Tem de mudar.
Será que o século XXI será “a era da implosão”? To be continued…