As alterações climáticas são um tema urgente. Mas será que estamos a olhar para o lado certo do problema? Vamos pensar.
As ideias ecológicas não são novas para mim. Já oiço falar de reciclagem desde pequena, quando acreditava que separar resíduos era a melhor solução para salvar a camada do ozono.
Mais de 15 anos depois, as alterações climáticas são reais e uma urgência a nível planetário.
As cheias e os fogos são cada vez mais intensos. Há espécies animais a diminuírem a um ritmo absurdo. Já não temos quatro estações e vivemos com máximos históricos de calor que alteram totalmente a nossa vivência.
Começámos 2020 com os Governos a falaram sobre este problema. Recentemente li o livro com o título “Ouro Verde”, que pretendia ser um guia de como ser uma empresa sustentável e amiga do ambiente era bom para os negócios.
Assim, ser verde é o futuro. As cidades, os carros, a comida, a roupa, tudo tem de ser verde.
Neste tema, somos também abordados pelo minimalismo e como reduzir as coisas que temos na vida é importante. O Cowspiracy também despertou a atenção para as pessoas sobre o consumo da carne e como a sua diminuição ajudaria bastante nas alterações climáticas.
Este problema até criou uma figura própria como a Greta, que todos os dias partilha uma mensagem de urgência de como devemos viver de maneira diferente para salvar o planeta para as próximas gerações.
Contudo, também chegamos a uma altura em que nos confrontamos com tudo o que fazemos não ajuda às alterações climáticas.
O trabalho remoto pode ajudar nesta questão, mas a digitalização com o e-commerce também não ajuda. Andar de avião é cada vez mais barato e ajuda imenso a explorar este mundo, mas é das formas de mobilidade mais perigosas para a atmosfera.
As medidas para tornarem as cidades mais verdes e com menos carros são ótimas, mas continuam a circular mais de meio milhão de carros em Lisboa por dia. Se não se melhorar os transportes públicos, estes números nada de servem. Queremos tomar duches mais rápidos para poupar água, mas comer um hambúrguer anula completamente o nosso esforço de poupança.
Até temos de pensar se realmente é melhor comprar sacos de plástico ou de papel (esta TedTalk é brilhante a falar do assunto e vai-te por a pensar ainda mais sobre o tema).
Sim, é importante fazer isso tudo. Mas a solução é mesmo mudarmos os nossos hábitos
Voltei a pensar neste tema quando li recentemente uma reportagem do The Guardian sobre como o minimalismo era um pouco uma farsa.
Quem escreve é Kyle Chayka, autor do livro The Longing for Less: Living with Minimalism. Nele, há uma total análise ao movimento minimalista e como este é uma resposta ao tempo de crise e de incerteza que se vive após a crise financeira de 2008.
Kyle menciona The Minimalists, um projeto de dois homens que tinham uma boa vida e que largaram tudo para terem uma vida mais simples e mais “real”. Já conhecia o projeto e já falei dele até no blog, como podes ver aqui. E fala também de Marie Kondo e como o seu popular programa é o expoente máximo desta noção doentia de vivermos sempre limpos e despojados de coisas.
A conclusão de Kyle é que a verdade está no meio. As mudanças tecnológicas e de padrões de segurança e estabilidade deram incerteza às pessoas e, por isso, o minimalismo é um refúgio fácil. Se tivermos menos coisas, estamos menos expostos a perdê-las. E perder é um sofrimento.
Estas ideias apareceram nos últimos dias sempre que se fala de alterações climáticas ou poluição. Fala-se muito da responsabilidade das grandes empresas, do petróleo, do futuro dos carros elétricos, dos sacos de plástico. As soluções passam muito por taxar os grandes poluidores, mas a solução não pode vir só de um lado.
Uma das grandes soluções para as alterações climáticas é consumirmos menos.
As empresas poluidoras vendem porque têm consumidores. Se deixassem de os ter, deixavam de existir. É possível individualmente renunciarmos a um produto, mas é possível milhares de pessoas juntarem-se para retirar um bem do mercado capitalista global actual?
Em qualquer discussão, tenho este ponto. Temos de consumir menos. Abrandar a produção de bens e serviços é a única forma de abrandar o fim deste planeta.
Temos de viver mais com o que temos. Não podemos trocar de telemóvel todos os anos. A nossa roupa tem de durar mais de 2 anos. Não precisamos de 50 pares de ténis diferentes, só porque estão na moda. A nossa cozinha não tem de estar equipada com 50 coisas que duram dois meses e são facilmente repostos por meia dúzia de euros.
No Natal, não precisamos de dar tantos presentes (já que a felicidade não está nas coisas, mas sim no tempo). Em festas, podemos comprar imensa comida, mas podemos também comprar menos ou dividir melhor os restos. Um carro não precisa de ser trocado a cada 5 anos.
Minimalismo para mim é isso: viver com o essencial, que é necessário, e com o essencial que é benéfico. Para o espírito, para a mente, para a felicidade.
Por exemplo, comprar livros é talvez um custo que se tem e são coisas que acabamos por acumular. Poderia substituir por um e-reader para ler e-books. Mas essa solução também tem a desvantagem de estar a olhar para mais um ecrã.
Assim, os livros são algo que eu quero acumular. Para um minimalista, pode ser parvo, mas para mim são coisas essenciais.
Se queres mudar de hábitos tens de te conhecer
Se queres consumir menos, tens de perceber os teus hábitos de consumo. Ser minimalista pode ser um solução, mas o equilíbrio está na moderação.
Assim, é importante veres o que fazes diariamente e como podes melhorar. Tomar banhos mais curtos? Comprar menos produtos e usar mais vezes? Ter menos roupa, mas que dure mais tempo? Reduzir as refeições com carne? Apostar nos vegetais? Comprar bio? Viajar menos?
São todas perguntas válidas e que deves pensar nelas. Há sempre que pensar nos dois lados da moeda e adaptares ao teu estilo de vida.
Como consumidor, ser mais consciente ajuda. Se vou deixar de comprar roupa nas fast-fashions tipo Zara? Pois, provavelmente não, mas posso ter menos roupa para não criar mais lixo. Não vou comer mais carne? Não, mas posso optar por cozinhar mais pratos com legumes. Nunca mais compro plástico na vida? Duvido, mas posso dar-lhe outro uso para prolongar o seu ciclo de vida.
Muitos poderão dizer que isto é igual a nada. No entanto, é muito difícil mudar mentalidades e hábitos. Vivemos numa sociedade consumista em que ter mais é ser melhor. Assim, é preciso inverter este pensamento e só praticando é que podemos dar exemplos aos outros. A consciência coletiva não começa nos Governos lá em cima, mas sim nos agregados familiares. E tu és um agregado familiar, por isso começa a mudança em ti!